domingo, 31 de maio de 2015

De feirante à freguês

Por: Aline Mendes
Edição: Yan Tavares
 
   Por quase quatro décadas José Inácio Ferreira 80 anos foi feirante. Vendia frutas, sendo algumas inclusive, de sua própria chácara, onde mora - em Travessão de Campos. A outra parte das frutas, vinham da Bahia e de Santa Luzia-ES. O Zé mineiro de Governador Valadares veio para Campos com 25 anos e trabalhou na Usina São José como cortador de cana. Na época, com dois filhos pra criar, precisava de uma renda melhor, até que conseguiu fazer uma inscrição para trabalhar no Mercado Municipal e logo em seguida adquiriu um ponto. Como não existia hortifrúti, as pessoas tinham que recorrer até o mercado. Com o passar do tempo, passou a ter muitos clientes, em sua barraca, onde também vendia coco rolado na hora, e pimenta moída.
   “Tínhamos alguns problemas com a fiscalização para com as mercadorias, até que conseguimos alvará para fixá-las no local. No início, tínhamos que levar embora todo fim de expediente. Eu inclusive, pagava alguns meninos para levar os produtos, depois trazê-los de volta, em uma carroça, chegando onde morava, eu pagava para guardar em um deposito. E assim fazíamos de domingo a domingo. Quem não tinha dinheiro para pagar fazer assim, era obrigado a vender barato, depois de pagar mais caro, se não perderia tudo. Os lucros eram bons, antes tudo era a preço de banana, comíamos dentro do mercado mesmo - antes era caro um prato de comida a R$ 10 - assim podia, sustentar casa, filhos e algumas namoradas na rua", brinca seu Zé.
 
   Ele conta ainda que acordava às 4h,para colher as frutas,  saia às 5h30min de sua casa e trabalhava na feira das 6h às 17h. "Na viagem, eu ainda dava umas frutinhas ao motorista, como um agrado." Ele possuía vara de porcos e fornecia para alguns colegas mercado. Ainda sobre a sua rotina, ele nos conta como era aos domingos, "Os domingos eram dia de toque de recolher, às 14h éramos obrigados a fechar para lavar, se o movimento fosse bom e passasse do horário, nós éramos multados. Hoje muita coisa mudou, as bancadas que agora são de cimento, antes eram cavaletes, tabuleiros e caixotes. O mercado antes era na lama, tinha que comprar esteira e papelão pra forrar no chão, diria que era quase que um brejo, hoje fizeram valão, jardim e galeria. Os ônibus passavam sempre onde era o camelô, depois mudou à rodoviária”, conclui o relato, o ex-feirante.
 
   Hoje o seu Zé - que declara ter sido um feirante de bom relacionamento em toda a feira, apesar de ser até hoje lembrado, como o “Zé Mineiro” deu um tiro no telhado do mercado -, já não trabalha mais no mercado, mas vai toda semana fazer sua feirinha e reencontrar os amigos de longas datas e bater um papo. Amigos esses, que o declaram como verdadeiro patrimônio histórico, devido às suas tantas histórias, em um lugar que conhece por completo. Por onde passa, é cumprimentado por todos que o conhecem. Para ele, não existe lugar melhor, "Sempre venho aqui, é parada obrigatória", declarou. Em sua volta para casa, cheio de alegria com suas compras, faz cerca de 40min de ônibus - da feira à travessão. Diante de tamanha história, este personagem, faz por merecer a cobertura de um dia com este:

 
Fazendo feira


Feliz com suas comprinhas


Com os amigos
Esperando ônibus na rodoviária 

Chegando à casa

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